Crônicas de Nox
As Aventuras do Capitano Navarro
Diário
de Bordo do Capitano Navarro
Preludium
Nocties
De fato, isto é um sonho. Não, um pesadelo. A
ampulheta de Hierophanus está serena com seu osmótico pó.
O vinho desta noite a
inebriou. O leito de lençóis esvoaçantes agitados pela luz da lua é uma mera
lembrança,
pois tal lume envolveu-me em brumas tão profundas que me sopraram
até aqui:
A Bahia de Sangue, em Gormantria.
Ruínas úmidas eu vejo. Torres, estátuas,
casebres, edificações, monumentos, muralhas, fortificações,
tudo se desfazendo
como um castelo de areia contra a subida da maré.
Ante a mim, no que restou do altar do que um
dia foi uma capela, uma enorme cruz franchada resiste. Meu esfolado e turvo
manto esconde-me da tempestade. Entre minhas mãos, cravada nas ranhuras
enlodadas dos degraus, está a espada que pertenceu a meu avô, forjada por um
ogro e encantada por uma bruxa, a espada dos meus ancestrais.
Minhas rótulas queimam sob a pedra fria, o mal
não macula o círculo quintessêncial envolta de mim.
Sem deuses a rogar, rogo a mim. Eles não
respondem por ninguém nestas terras banidas e decadentes. Lá fora, além de meu
selo, aguarda-me os mortos. O medo espreita pelas janelas quebradas das moradas
perdidas. O pânico se expande por todas as ruelas. Todos desejosos,
aprisionados, corroídos pela ânsia. Entretanto, minha espada os absolverá.
Quando for brandida, descansarão em paz.
Ergo-me, o capuz desfalece sobre meu dorso e a
tormenta purifica minha face seca. Lentamente o altar reencontra minhas costas
enquanto um sussurro é entoado de minha bainha e a lâmina emana feixes ao ar.
O trovão revela a peleja.
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